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Motociclismo e a Sociedade

Os Símbolos do Motociclismo Estradeiro


11/07/2016 10h40

Aqueles que frequentam Encontros de Motociclista por esse Brasil afora sempre se deparam com uma tribo de motociclistas toda de couro preto, com caveiras por todo o lado de sua indumentária e de suas motocicletas, são correntes, anéis, lenços e diversos outros apetrechos que os diferenciam dos demais. Estes são os Motociclistas Estradeiros, que vivem o ano inteiro nas estradas de nosso país.

E porque eles se caracterizam da maneira citada acima. Será que é só um tipo? Será que é somente para incutir medo nos demais motociclistas? Não, eles são oriundos e cultuadores, além do prazer das viagens de longo curso, da preservação das tradições do motociclismo iniciado no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando surgiram as primeiras “gangs” de motociclistas nos Estados Unidos e que se transformaram nos Moto Clubes antigos, famosos e tradicionais.

Cada item da indumentária desses motociclistas tem um razão de ser. Sei que muitos já conhecem o significado dos símbolos e apetrechos, mas muitos de nós ainda não temos esse conhecimento, por isso, passarei a descrever os símbolos mais importantes. A velha caveira, o símbolo mais tradicional, não tem o intuito de assustar ninguém, ela simboliza a igualdade que reina entre os motociclistas quando em suas viagens, quando todos são iguais, independente da motocicleta, das cores de seu Moto Clube, da idade da raça e do sexo. Pois se colocarmos uma caveira sobre uma mesa, não sabemos se é de mulher, homem, negro, branco, pobre ou rico. Quando na estrada nos ajudamos mutuamente independente de qualquer coisa, Somos apenas todos, Motociclistas.

Porque as roupas pretas?, Muito simples, quando passamos longo tempo em viagens, não temos espaço suficiente para levarmos um lindo guarda roupa, e nem tampouco lavarmos nossos trajes, e a fuligem dos caminhões e carros, a poeira das estradas, em pouco tempo sujam nossas roupas, assim sendo o preto esconde nossas sujeiras, além de esconder também nossas fraquezas, pois a cor preta parece que nos torna mais fortes e imbatíveis.

E os anéis nas mãos? Quando as gangs americanas cruzavam as estradas, as brigas e confusões eram comuns naquela época, e eles usavam o soco inglês nas suas brigas. E imaginem o estrago que um soco inglês faz no rosto das pessoas, por isso, em um determinado momento, o soco inglês foi enquadrado como crime e proibido pelas autoridades americanas , aí então eles começaram a usar vários anéis nos dedos para substituir o soco inglês sem estar burlando a nova lei. E nós continuamos usando não para machucar ninguém, apenas para não deixar a tradição motociclistica cair no esquecimento.

E o velho e tradicional casaco de couro? Tenham certeza que não é para combater o frio e a chuva, pois o couro não esquenta, e quando chove, encharca, o uso se dava em função das motocicletas antigas, tais como as Harleys Davidson e as Indians, que eram as mais usadas pelas “gangs”, quando na estrada iam largando os pedaços de ferro, parafusos, além das pedrinhas, imaginem um parafuso bater no seu peito, ou braços a 100 km por hora? Já com o casaco de couro estamos protegidos desse problema. E é bom que continuemos usando, pois os pedriscos, insetos e as vezes pedaços de metal que se soltam dos veículos continuam existindo.

O lenço que os estradeiros, usam no pescoço, no bolso, ou amarrado na motocicleta, é oriundo dos cowboys americanos que passavam dias e dias nos terrenos arenosos do velho oeste, e eram usados para enxugar o suor, ou para amarrar no rosto, sobre a boca e o nariz, nas tempestades de areia, e os motociclistas continuaram usando quase pelos mesmos motivos, o suor, e em vez da tempestade de areia, protegem nossas vias respiratórias da fuligem e dióxido de carbono expelido pelos veículos na estrada.

Os cabelos longos tinham como objetivo proteger o ouvido dos insetos, pois naquela época eles dormiam no meio do mato, na beira dos lagos e rios, e essas áreas, eram infestadas de insetos, inclusive escorpiões, então quando os heróis da estrada iam dormir, desfaziam o rabo de cavalo e enchiam seus ouvidos com seus próprios cabelos, impedido a entrada dos insetos.

As tatuagens que a maioria dos estradeiros usa, também vêm daquela época, em que os integrantes de Moto Clubes marcavam no seu corpo o brasão do seu Clube e também a sua motocicleta, além das diversas modalidades de caveiras. Hoje também para manter a tradição continuamos nos tatuando.

Observem que, a maioria dos estradeiros, possui uma pequena corrente de prata ou de aço no bolso, é outro símbolo, pois nas brigas de gangs a arma mais usada na época eram as correntes, mas não essas que usamos hoje, que são apenas simbólicas servindo apenas para proteger nossas carteiras contra as perdas, mas pesadas correntes que eles giravam no ar, e ai de quem estivesse no raio de ação das mesmas.

Sem falar no velho, e bom rock and roll, que embalava não só os momentos de amor, mas também as confusões daqueles motociclistas. E que continuam embalando os atuais motociclistas em suas longas viagens.

Bem meus amigos. Todo e qualquer motociclista é muito importante para o sucesso e incremento do motociclismo no nosso país, mas não podemos negar que os motociclistas estradeiros, são os que não deixam o início de tudo ser esquecido. É claro que a única lembrança que não queremos trazer para os dias de hoje são as brigas entre gangs, ou entre Moto Clubes, cultuamos só os símbolos da época, mas em paz, igualdade e fraternidade.

Sonivaldo Vieira Leite
36 textos publicados

70 anos, Casado, Pai de 5 filhos, Engenheiro de Vôo Aposentado, trabalhou na Varig por 39 anos, Motociclista desde 1.972 ininterruptamente. Atualmente possue uma Road Glide Special 2019, Fat Boy 2017 e uma Rocker 2011.

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