Diário de Bordo

Ana Lourenço e seu Spyder Amarelo

Internacional

Atacama, seu lindo!!!

A viagem e uma homenagem...


15/06/2016 13h45

Há dois anos eu e Juca, meu marido, tivemos a ideia de ir ao Atacama de moto/spyder e começamos a pesquisar, planejar e economizar para realizarmos esta aventura. Quis o destino que no dia 21/3/2015 Juca nos deixasse...

Acalentei então o sonho que acabou sendo uma homenagem ao meu amor.

Através do Mototour na pessoa do Everson Assunção pude enfim realizar esta homenagem. Preparei-me física e emocionalmente para enfrentar o deserto mais árido do mundo e chegou o dia de desbravá-lo.

Sai de Belo Horizonte com destino a Uberaba, por motivos pessoais e em Ribeirão Preto encontrei com o casal Fernanda e Haroldo para seguirmos viagem até Foz do Iguaçu onde iniciamos a aventura da Expedição ao Atacama.

Em Foz nos reunimos com o grupo todo. Éramos 10 motos.

Everson, nosso líder e guia; Tânia minha companheira de Spyder; Hercules de SP Corintiano roxo; Robson do Rio de Janeiro; Eduardo e José Edson, ambos do Rio de Janeiro de Areal Região Serrana; Vicente e Eliane também do Rio região dos Lagos Iguaba Grande; Fernanda e Haroldo casal de Lagoa da Prata MG que encontrei em Ribeirão Preto, Claudio de Santa Catarina que veio se juntar ao grupo já em Foz e iria se despedir antes do término da viagem porque iria assistir ao GP na Argentina; Marcelo, nosso competente médico do Rio Grande do Sul; Getulio de Minas Gerais além da competentíssima equipe Mototour: Everson e José Olímpio.

Nosso grupo foi formado, saímos no dia 17/3/2016 rumo ao Atacama, seu Lindo!

Muitas expectativas afinal a aventura iniciou-se... Primeiro dia de viagem 850 Km – Pampa Del Infierno (Chaco Argentino) calor de 45º retas intermináveis. Fomos driblando o sono e aguentando o calor.

Ao término do dia a emoção aflorada de ter vencido o pior trecho do desafio foi recompensada com o luxuoso hotel que nos acomodamos, Piscina ao luar, ótima companhia, jantar excelente, tudo favorável!

E a viagem segue, vamos que vamos! Pose pra foto, saímos. Hoje só rodaríamos em torno de 600 Km, estradas perfeitas sem buracos, caminhoneiros gentis, como todos deveriam ser na estrada, o dia rendeu e nem sentimos o calor da pista.

Chegamos ao Chile! Alegria de fazer parte de um grupo tão bom!

As cidades pelas quais passamos tudo foi sendo descortinado e a cada Km mais sorrisos e fotos, muitas fotos, self, fotos do grupo, fotos da paisagem.

E, por falar em paisagem, Chile, seu lindo, que lugar encantador – não no sentido poético, afinal estávamos indo rumo ao deserto, pedras, areia e sequidão. O azul do céu em contraste com os vários tons de ocre da estrada só destacava o amarelo do meu spyder.

Cidade após cidade, estradas ótimas – como deveriam ser as brasileiras #só que não! Alguns trechos em obras, mas nada que tirasse o ânimo e o entusiasmo do grupo. Pudemos constatar a qualidade e a espessura do asfalto chileno, Eduardo nosso companheiro de vigem, que trabalha com isso ficou encantado...

Saímos rumo à mão do deserto, poeira e mais poeira, calor insuportável mas tudo realmente lindo. A aridez do deserto nos encantava cada vez mais... A paisagem hipnotiza e faz sonhar com o que tem por vir.

Realização de um sonho, Vicente e Eliane tirando mil fotos com a bandeira do Moto Grupo Carcaças.

A alegria estampada no rosto de todos. Jubilo puro.

A essa altura tivemos alguns problemas – a moto do casal de Iguaba Grande deu problema e teve que ser transportada na caminhonete, isso sem falar na perna da Tânia, na garganta do Hércules e a ressaca do Haroldo.

Paramos no deserto para subir os Andes – O Spyder guerreiro esquentou – susto grande, mas o líder da expedição foi o herói do dia resolvendo o problema do relê da ventoinha que refrigera o motor... Agradeço.

Aliás, não só a ele mas a todos que ficaram debaixo daquele sol escaldante tentando solucionar a pane, Haroldo, Eduardo, Getúlio, José Olimpio, Robson (até empilhou pedras para os espíritos da montanha) Vicente, enfim a TODOS.

Com o passar dos dias o grupo foi entrosando mais e a gente pode conhecer um pouco da história de cada um.

Em Salta, La Linda ficamos hospedados num hotel muito bem localizado no centro da cidade, próximo a praça central e ao museu onde há a exposição das três múmias encontradas pelos arqueólogos ali perto no pé do vulcão

Fomos visitar a exposição, a cada 15 dias uma das múmias fica exposta, para preservação das condições gerais fica em uma redoma de vidro climatizada, com luz tênue, muito interessante, enquanto uma é exposta as demais são estudadas pelos experts. Como era domingo de Ramos, eu e o Marcelo fomos assistir a missa na praça central, em espanhol, muito interessante, diferente. Agradeci a Deus a oportunidade de estar ali.

Teve o passeio no teleférico até o alto da montanha, que visual lindo!!! Fernandinha e Haroldo no mesmo teleférico ... Depois fomos andar de scooter pela cidade city tour, pegamos a estrada e chegamos em San Lourenzo. Ótimo dia. Muitas fotos.

A noite fomos ao Boliche famosa Calle Balcarce, uma rua inteira cheia de barzinhos um ao lado do outro. Pena que estava chovendo...

Catarina (o Cláudio) e seu inseparável chimarrão, sempre alegre e carismático contando causos piadas e nos alegrando, Robson que mesmo no seu cantinho, do seu jeito revelou seu encanto, sempre falando de seu filho e esposa, com ternura e saudade. Hércules que sempre me deu apoio quando eu esmorecia fazendo jus ao seu heróico nome. Eduardo, essa pessoa iluminada que todo dia amarrava minha mochila no spyder, me ajudando. Quero ser sua amiga para sempre! Gegê, a essa altura da aventura Getulio já virou Gegê, a quem eu explorei no bom sentido, Meu anjo da guarda, você tem e sempre terá um lugar cativo no meu coração. Foi o fotógrafo da expedição ele e o Fitipaldi (José Olimpio) figura simpática e gentil, sempre antecipando os problemas, ajudando e falando da sua amada esposa.

Seguimos até a Cordilheira, subimos uma estrada cheia de curvas, um olho na estrada e outro na paisagem que a cada curva se descortinava mais bela a paisagem mais seca, mas neste caso quando mais seca mais próximo a San Pedro de Atacama.

Fotos em JuJuy 4.170m de altitude, desafio ao físico, falta oxigênio mas sobra alegria. De tanta alegria esquecemos da recomendação do guia para não exagerarmos nos movimentos devido ao pouco oxigênio- ainda bem que ninguém passou mal lá no marco.

Susques – o Pórtico de lós Andes uma parada no meio do nada, deserto de um lado, deserto de outro lado, deserto em frente... pousada rústica como a paisagem. Lá fomos iniciados ao chazinho de coca.

Tivemos algumas reações na pousada mas depois do chazinho tudo favorável, não é Robson?!

Casal Haroldo e Fernanda daria um capítulo a parte, tão comunicativos e cheios de histórias para contar, principalmente Haroldo que tem uma bagagem de vida enorme, já passou por tudo e de tudo sabe um monte, pessoa incrível! Já a doce Fernandinha vivenciando novas experiências como andar de teleférico, se equilibrar na ponte sobre o Rio lá em San Lourenzo. Muitas novidades para contas às meninas em casa.

Tânia, a lida guerreira, grande e excepcional companheira de aventura com sua sabedoria me ensinando a ser mais comedida com minhas emoções que estavam a flor da pele. Aprendi muito com nossas conversas, rimos muito e saímos mais fortes. Houve momentos em que ser forte como nós somos e fomos nos deixou em certa desvantagem. “Hay que endurecer, Pero perder la ternura jamais.”

Poderia escrever muito sobre ser forte e ser mulher, mas só quem viveu sabe.

Tânia a cada dia me tornei mais sua fã, sua vivência, sua história me fez rever a minha história e o que pude aprender com você nestes poucos dias irá me acompanhar para sempre. Que bom tê-la ao meu lado. Deus continue a te abençoar sempre!

Aos poucos vamos avançando até que chegamos ao tão fotografado Salar Salinas Grandes, pena que o tempo destinado ao lugar tenha sido tão exíguo para a apreciação da beleza da criação de Deus. O lugar por si só merecia mais tempo para contemplação, reflexão e fotos, muitas fotos.

Espero voltar lá um dia para me sentar naquele mar de sal e agradecer ao criador pela sua beleza. Fomos a um lugar onde nada se cria, mas onde a beleza é de uma riqueza incontável.

Logo na estrada perto de San Pedro de Atacama uma iguaria rara, espetinho de carne de lhama. Delicia! Que lugar encantador, incrível o azul do céu no deserto. O povoado que ali sobrevive a história deles... tudo incrível, no trajeto os flamingos se refrescando no deserto, as lhamas selvagens

Chegamos, enfim , a San Pedro do Atacama, o almoço delicioso, como sempre, nosso guia sabe mesmo onde comer bem. Os passeios opcionais que fizemos ao Vale da Lua e ao Vale da Morte bem como lago onde tem os gêiseres, foram maravilhosos e o grupo cada dia mais entrosado.

Foi neste clima que seguimos em frente na nossa expedição já com saudades do ATACAMA, SEU LINDO!

Depois desta beleza ímpar o que nos resta ver, o Oceano Pacífico – gelado e lindo.

Para o corajoso Hércules meus aplausos, primeiro por ter enfrentado o calor da piscina nos gêiseres no frio de -8 junto com o Robson, e por último sozinho, enfrentou o frio gelado do oceano pacífico.

Vicente e Eliane, capítulo dois: Maravilhoso casal de Iguaba Grande se mostraram resilientes diante da notícia que a moto não teria condições de rodar, nem isso tirou o brilho do passeio, afinal, Atacama é mesmo para poucos afortunados, de moto ou não.

Conversas, muitos risos, alegrias mil, muitas fotos, churrasco em La Serena, o grupo seguiu viagem agora para a capital do Chile, a linda Santiago. Tão diferente da paisagem a qual estávamos acostumados.

La em Santiago fui até a concessionária da Can Am - BRP achando que seria tão bem recebida e recepcionada quando vou a Nova Lima na rua Hudson... lá não me ofereceram nem um café, alíás, quando eu perguntei se havia café, a moça me indicou uma lanchonete ao lado da loja... Isso só para reforçar que a QUADRIJET é a Melhor viu Ze Roberto, Santana e equipe, vocês são The Best em todos os sentidos.

Que emoção subir Los Caracoles.

Em Mendonza fomos jantar no restaurante La Lucia, a carne mais deliciosa que já comi. A companhia excelente, todos muito alegres, as conversas super animadas, tudo favorável!

Marcelo, nosso anjo de jaleco branco, neste caso nosso anjo de cordura em 2 rodas que desde o primeiro dia deu plantão 24 horas, 17 dias e em 3 fronteiras diferentes. Tivemos vários problemas, de picada de mosquito a problema no nervo ciático. Mesmo de bandana e bota esse anjo se fez presente e competentemente deu conta do recado sempre atencioso, solicito e objetivo nos seus comentários. Adorei tê-lo conhecido. Obrigada por me ouvir com tanta atenção, aprendi com você a observar mais e falar menos.

Saímos de Santiago mais “experts” em relação aos vinhos – afinal estivemos na Concha y Toro e aprendemos muito sobre o cultivo das uvas. Que dia esplendoroso!

O início da volta para casa se deu em três dias de pilotagem seguidos, em torno de 600 Km por dia até chegarmos a Posadas onde fomos no Restaurante Itakuá sem duvida um dos melhores de todos. Cidade grande e linda com agradável clima, cheia de história e culturalmente rica. Ótimo lugar para voltar e explorar em passeios a pé na orla do Rio e se deleitar...

De Posadas até a aduana para o Brasil foi tranquilo, refleti muito sobre a aventura e a minha alma estava aplaudindo. Voltei para Foz do Iguaçu com a certeza que esta aventura me tornou uma pessoa melhor.

No dia 21/3/2016 fez um ano da morte do Juca, planejei fazer uma homenagem com discurso, prece, etc... mas não dei conta, fiz minha oração e agradeci a ele por ter feito parte da minha história, da minha vida. Nos reencontraremos no momento certo meu amor.

Bem, de volta à vida normal após 2 dias inteiros de descanso e ócio só posso agradecer a Deus por ter tido a oportunidade de superar minhas barreiras físicas e emocionais e voltar sã e salva mais forte, mais feliz e cheia de novos amigos e histórias para contar.

“Em grandes viagens o esqueleto geme de dor, mas a alma aplaude de alegria” Juca (*1957 +2015)

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