Diário de Bordo

Internacional

Dos Pampas ao Pacífico


03/02/2012 22h15

Desbravar o deserto do Atacama sob outro ângulo foi o objetivo de Robson Elias Reuter, quando no dia 07 de dezembro de 2009 partiu para uma viagem de motocicleta pelos pontos turísticos da Argentina e Chile. Durante nove dias passou e conheceu o outro lado da América do Sul, sozinho sobre duas rodas.

O meu primeiro destino foi PAMPA DEL INFERNO a 850 km de casa, onde comecei a conhecer a pessoas, cultura e culinária local. É uma cidade pequena sem calçamento nem asfalto na cidade é areia mesmo. Porto todo lado que olha só vê areia. Algo que me chamou a atenção nesta cidade é o “apagão” programado que acontece todos os dias das 20 horas até as 21 horas. É tão comum o ”apagão” que os restaurantes e hotéis possuem pequenos geradores a diesel. Isso me chamou a atenção porque o governo argentino sempre negou a necessidade de horário de verão, segundo eles não existe problema de energia elétrica naquele país tanto é que realmente havia a diferença de uma hora em relação ao Brasil.

Deixei para abastecer a moto no dia seguinte, mesmo saindo cedo perdi muito tempo, pois me deparei com outro problema vivenciado pelo povo argentino, desta vez o problema é de logística. Perdi pelo menos uma hora procurando um posto de combustível que tivesse gasolina. O produto no norte da Argentina é caro e escasso. Isso serviu de lição, aproveitei para levar combustível de reserva na bagagem.

Após segui em direção a oeste passando por regiões de PAMPA. Seguia horas pela mesma reta, sem ver nenhum sinal de vida. Minha sorte é que as estradas na Argentina são realmente boas, muito melhor que as estradas no Brasil. O único detalhe é que na Argentina não existe acostamento, o que torna a viagem perigosa, pois em alguns momentos é comum ver animais na pista e na província do Chaco, onde os motoristas aceleram fundo, fazem ultrapassagens perigosas. Chegaram me tirar da pista várias vezes.

No final do dia cheguei na cidade de Salta no norte da Argentina. É uma cidade grande e muito bonita. Encontrei uma turma de motociclistas argentinos muito camarada, conversamos por um bom tempo, eles faziam muitas perguntas e contavam muitas histórias. Segundo eles é um sonho viajar pelo Brasil, mas não podem fazer devido ao alto custo da viagem para eles, afinal a moeda deles está muito desvalorizada. Esses motociclista me indicaram-me o “Hotel dos Brazucas”, deram esse apelido ao hotel porque lá ficam os motociclistas brasileiros. Nesta cidade encontrei muitos aventureiros de jipe e motocicleta. Também foi nesta cidade que comecei a pegar a Cordilheira dos Andes.

No terceiro dia seguindo de Salta ainda em direção ao oeste pelas cordilheiras. Foi um dia muito especial porque foi a primeira vez que vi e senti (essa é a parte boa de viajar de moto, é possível sentir o clima, vento, etc) as cordilheiras.

Também foi neste dia que entrei no deserto do Atacama. É um lugar realmente bonito, neste momento estava fascinado com a paisagem. É engraçado como é quente no deserto (aproximadamente 40ºC) e como é frio nas montanhas (0ºC) a 4170m de altura. Mesmo sendo frio o sol queima mesmo, é necessário usar protetor solar.

Sobre as montanhas é impressionante como o corpo e a moto sentem a falta de ar. Estava todo o tempo ofegante e cansado. Para piorar, o vento batia realmente forte, era até difícil ficar em cima da moto. Mas essa foi uma experiência muito proveitosa, mesmo passando por alguns sustos e momentos de dificuldade, estava muito bom. Estava o tempo todo feliz, pois estava realizando meu maior sonho que era ir para o Pacífico de moto.

Quanto à moto mesmo com injeção eletrônica não tinha o mesmo rendimento, sem contar que o consumo aumentou e quando reduzia a velocidade dava um estouro, acredito que não conseguia queimar todo o combustível (por falta de oxigênio) então essa sobra ia para o escapamento.

Todo final de dia, quando estava no hotel fazia a manutenção básica da moto, como lubrificar corrente e verificar se está tudo certo. Quanto estive na cordilheira a vela ficou realmente preta, era possível escrever com a vela como se fosse um carvão. Acredito que isso ocorreu pela má queima do combustível.

No final do dia atravessei a aduana entrando no Chile por San Pedro de Atacama. Uma pequena cidade no estilo Andino, muito linda com muitos pontos turísticos. Gostei tanto da cidade que fiquei aí 2 dias conhecendo os pontos turísticos. Pelo fato de ser muitos locais de visita e distante, comprei um pacote turístico de uma agencia de turismo e fiz visitas de VAN. Me chamou a atenção que os Chilenos fazem questão de falar em inglês com os turistas.

Um fato curioso que fato que observei foi o cuidado dos agentes da aduana em relação à entrada de queijo e frutas. Depois descobri que o Chile tem as melhores frutas, queijos e vinhos do mundo, isso porque no Chile não existe insetos que prejudicam esses produtos, então eles cuidam muito que ninguém traga de fora.

Ainda em San Pedro de Atacama conheci um lugar fantástico, trata-se dos Geysers del Tatio, onde ocorre um fenômeno da natureza todas as manhãs. Em um ambiente frio (0ºC) jorra água do subsolo com 80ºC de temperatura. É fácil observar o cheiro de enxofre. Havia até piscinas com água quente, onde os turistas tem permissão para entrar.

Apenas nos quinto dia segui viagem onde cheguei em Antofogasta (por onde passou o Dakar 2010). É uma grande cidade no litoral chileno. Ou seja, cheguei ao oceano Pacífico.

No dia seguinte segui em direção ao Sul, passando por um importante lugar que já passaram aventureiros e viajantes de todo o mundo, trata-se da mão do deserto que fica no meio do deserto do Atacama.

Por falar em aventureiros, durante a viagem encontrei centenas deles, de motocicletas, jipes e até a pé. Dentre os aventureiros, a maioria era Europeus.

A iniciativa da viagem até o Chile surgiu quando assisti o filme "Diário de motocicleta" que conta a história de Che Gevara. Mas a viagem não foi realizada por impulso, foi necessário toda uma preparação de meses até seguir rumo ao Chile. Para testar o equipamento que estava usando fiz uma viagem em pleno inverno gaúcho até o Chuí, no extremo sul do Brasil.

Para o trajeto preparei uma estratégia para conseguir levar tudo o que era necessário para a viagem. Levei comigo, 10 litros de gasolina, roupas velhas, algumas barras de cereais e água. Por segurança a idéia foi de dormir em hotéis a cada noite, então com a ajuda do GPS planejava sempre chegar em alguma cidade no final do dia.

Já as roupas velhas é uma técnica para liberar espaço em minha bagagem. “Levo as roupas e conforme vou sujando vou deixando nos lugares onde estou, já que são velhas e ficam embaixo da capa para moto, podem ir fora, e eu posso trazer lembranças de lá nesse espaço livre”.

Eu mantenho um blog que foi atualizado a cada noite durante o percurso. Neste blog encontra o diário de bordo da viagem com centenas de fotos, vídeos e comentários nos mínimos detalhes: http://pampa-ao-pacifico.blogspot.com. Foi muito divertido, pois muitas pessoas acompanharam a viagem e mandaram mensagens de força e otimismo.

Hoje com uma boa experiência na bagagem planejo uma nova aventura. Ainda não decidi o destino, mas terá que ser uma viagem maior que a última.

Autor: Robson Elias Reuter

Contato: informatica@comtul.com.br

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