Diário de Bordo

Nacional

Maringá a Abrolhos, de moto sozinho.


03/02/2012 22h19

1º dia: Sair de casa e pegar a estrada. Foi o início da realização de um sonho. Só quem já pegou a estrada é que pode entender esse momento mágico. Não dá para explicar o sentimento de satisfação. O vento batendo em sua cara, em seu corpo, você olhar aquele estradão na sua frente e curtir cada quilometro, cada paisagem nas laterais, cada curva, tudo fica mais bonito em cima da moto. É não ter pressa de chegar, só curtir mesmo o asfalto e a bela vista que teus olhos alcançam. Isso não tem preço.

Fiz uma primeira parada já em Londrina, com 95,7 km, estava com receio da falta de posto no próximo trecho. Nesse trecho da estrada do Paraná existem 3 pedágios.

Em seguida parei em Assis SP. É incrível como as pessoas se aproximam de alguém viajando de moto. Chequei minha bolsa que estava encaixada no Sissy Bar. É daquelas bolsas bonitas de couro, com franjas, cheia de bolsinhas nas laterais, na frente e em cima, igual àquelas que vemos nos filmes, muito bonita, modéstia à parte rsrsrs.... E prossegui.

A estrada estava ótima. Fiz outra parada após Marília para abastecer, chequei novamente a bolsa, liguei para casa para dar “mensagem de posição”, afinal de contas, quando saí deixei todo mundo com o coração na boca rsrsrsrsr.

Nessa etapa de Marília para Ribeirão , após a ponte do Rio Tietê, alguns trechos do asfalto estão com calombos e alguns buracos, que mais à frente, viria a saber que podem trazer um grande transtorno.

Faltando 110 km para Ribeirão, resolvi parar novamente para abastecer, pois era o último posto antes do destino. Abasteci e quando olhei para trás tomei o maior susto: CADÊ MINHA BOLSA? Até entender demorou alguns segundos, será que roubaram ou perdi na estrada? Saltei em cima da moto e já estava entrando na estrada para voltar, quando uma carreta parou na lateral e perguntou se eu havia perdido uma bolsa. Após minha afirmativa, ele falou que um Saveiro verde havia pegado há uns 10 km atrás. Subi na moto e “decolei”, voando baixo mesmo, eu que não havia ainda “testado” a moto, coloquei 180 km para tentar alcançar a bendita Saveiro, afinal de contas, na minha bolsa estava toda minha roupa, talão de cheque e um Lap Top, além de outras coisas úteis para a viagem.

Rodei 55 km voltando e nada. A desilusão é grande, logo no primeiro dia me acontece um imprevisto desses. “Marinheiro de primeira viagem” não tem jeito mesmo, pensei. Logo fui relaxando e pensei, não vai ser isso que vi tirar a alegria de minha viagem. Vamos tocar pra frente, compro o essencial e prossigo na viagem.

Logo a noite recebo a ligação de minha filha dizendo que uma pessoa ligou dizendo que havia achado minha bolsa. Parecia milagre (de repente até é....) tanta gente rezou para a bolsa aparecer... Falei com a pessoa e disse que no dia seguinte iria buscar em Piracicaba SP, cidade da pessoa.

2° dia: Fui buscar a bolsa e ofereci um dinheiro como recompensa, mas o Sr. Fernando Nelson não quis de jeito nenhum, depois de muita insistência, aceitou, mas falou que iria doar o dinheiro, no que eu propus que ele desse para o filho de 10 anos, que estava com ele quando achou bolsa. Disse para ele que sua honestidade, infelizmente, é rara nos dias de hoje, e que seria uma ótima oportunidade de mostrar ao filho. Tenho certeza que este ensinamento seu filho jamais esquecerá.

Obrigado Fernando, você é um exemplo de pai e de cidadão brasileiro.

3° e 4° dia fiquei em Ribeirão Preto SP, fazendo um social com a família.

5° dia: De Ribeirão Preto SP a Barbacena MG. Se você quiser aumentar sua aventura na estrada, faça o trajeto pelo interior de Minas, sem mapa. É pura adrenalina, as placas só indicam aquelas pequenas cidades que você não anotou e nunca ouviu falar rsrssss. Bom, fiz a rota Ribeirão SP, Altinópolis SP, Batatais SP, São Sebastião do Paraíso MG, Alfenas MG (Circuito das Águas), Lavras MG, São João Del Rei MG (Estrada Real), Barroso MG e Barbacena MG. Nessa etapa não peguei “chuva”, pois aquilo não era chuva, era Dilúvio, mas tava bonita dava até para ver os riachos que iam se formando e atravessando a estrada rsrsrsrs. Ainda bem que estrada toda é ótima. Depois de andar o dia todo, mesmo cansado, fui direto para a EPCAR, Escola que prepara oficiais da Aeronáutica.

6° dia: De Barbacena MG a Ubú ES (próximo à Anchieta). Sai cedinho de Barbacena MG peguei a Serra de Santa Bárbara para Leopoldina MG, a serra estava “fechada” pela neblina, você não conseguia ver 10 m à sua frente. Curvas e neblina, ótima receita para mais adrenalina. Após Leopoldina MG, Muriaé MG, Bom Jesus de Itaperana, Br 101, Rodovia do Sol, Anchieta ES e Ubú ES. Fica a 9 km depois de Anchieta ES, beira-mar, é uma vila de pescador muito simpática e agradável. Pousada Corais de Ubú, R$ 80,00, restaurante Marimar.

7° dia: De Ubú ES a Ilha de Guriri ES. A saída de Ubú foi com chuva, em compensação o rapaz que atende na pousada, um apaixonado por motos, se prontificou em me guiar de moto. Assim foi, saímos de Ubú ES, pegamos novamente a Rodovia do Sol, atravessamos a cidade de Guarapari ES no trevo nos despedimos. A Rodovia do Sol é uma alternativa para a Br 101, embora com pedágio, vale à pena. Vai até Vitória ES, está ótima e vai beirando o mar, você pilota vendo e sentindo o cheiro de mar, o único empecilho é que você tem que atravessar Vitória ES para pegar novamente a Br 101.

A travessia por Vitória foi terrível, havia chovido muito (depois fiquei sabendo que havia previsão de um tornado na área), e bairros inteiros estava alagados em direção à 3° ponte, que é a saida para a Br 101. Ao chegar na Br 101 outra surpresa, havia um engarrafamento monstruoso de caminhões e carros, tudo por que a estrada estava alagada e nem caminhão passava.

Bom, passei com muita chuva e adrenalina rsrsrsrsr. Prosseguindo, próximo à São Mateus ES (cidade com quase 5 séculos) entrei à direita para a Ilha de Guriri (11 km). Cidade pequena mas bonitinha.

8° dia: De Ilha de Guriri a Alcobaça BA – Na saída de Guriri, ao amarrar a bolsa com 5,5 m de elástico, para não cair de novo rsrsrs, notei que a placa da moto havia caído na estrada. E agora? Parar na Polícia Rodoviária Federal, tentar explicar e pedir para eles darem uma autorização para viajar sem placa? Mas, e se eles não entendessem e prendessem a moto? O que fazer? Optei por seguir e, tentar explicar e contar com a boa vontade do policial.

Tirando isso, esta etapa seria a mais simples até o momento, era só pegar a BR 101 e depois seguir até Teixeira de Freitas BA, entro à direita e logo chego m Alcobaça BA, claro, com chuva rsrsrsrs.

Alcobaça BA é uma cidade histórica, pequena, mas igualmente agradável. Dia seguinte, permaneci em Alcobaça BA e tirei umas fotos de lugares históricos e fui fazer o Boletim de Ocorrência na Delegacia (placa perdida).

Após dei um “pulo” de 26 km até Caravelas BA. Estrada muito boa tirei mais fotos de igrejas e alguns prédios antigos. Segui para o Museu da Baleia, mas estava fechado.

Parei em uma agência de turismo e reservei a visita para Abrolhos. Lá fiquei sabendo de um encontro de moto em Prado BA (pertinho, 28 km). Que sorte, tô dentro. Fiz reserva em pousada que já estava quase tudo lotado e com os preços subindo rapidamente.

Aproveitando que estava em Caravelas BA, dei uma esticada à Ponta de Areia, também histórica, tem até a música de Miltom Nascimento “Ponto final da Bahia-Minas, estrada natural“. 5 km à frente, tem Barra, lá tem um restaurante típico, conhecido internacionalmente, “Tio Berlindo”, quem for lá tem que conhecer.

9° dia: Fui de Alcobaça BA para Prado BA 8 km, Logo na chegada havia a recepção simpática da coordenação do Mototour Fest, de 10 a 14 de março, com direito a água de coco e fitinha de Nosso Senhor do Bonfim. Não imaginava que em Prado existissem tantas pousadas, são muitas e muitas.

10° dia: Tirei o dia para conhecer as praias (e comer um camarãozinho rsrsrs) e recebi a confirmação do passeio para Abrolhos para o dia 12, sexta, além de ver as lindas motos chegando para o encontro. Uma coisa que me chamou a atenção é que mesmo com um calor intenso, era grande o número de motociclistas que foram à praia de calção e de colete de couro de seu moto clube. Até na praia...? Sim, até na praia, faz parte dos encontros usar o colete de seu Moto Clube.

11° dia: Mais um dia de praia em Prado BA, água morna e areia grossa branquinha.

12° Saí cedinho de Prado BA rumo à Caravelas BA para embarcar para Abrolhos, afinal de contas era esse um dos objetivos da viagem.

Embarcamos às 7 horas em um Catamarã, em 16 pessoas, demorando 02:40 h até o Arquipélago, que fica a 70 km. Na viagem, conheci um motociclistas de Nova Friburgo RJ, que também estava viajando sozinho e veio para o encontro em Prado. É o xará, Ricardo também. Pessoa sensacional, desses que parece que você conhece há anos, tamanha a afinidade de idéias. Parece um jovem de 69 anos, com sede de vida, com sede de aventuras.

Avistar Abrolhos é uma emoção, logo começamos a ver tartarugas, enormes e em grandes quantidades. Ao desembarcarmos em uma das ilhas, tivemos um breifim com o geólogo responsável pelo Arquipélago e vimos a enorme preocupação pelo meio ambiente. Parabéns.

Abrolhos são várias ilhas, onde em cada uma habita, geralmente, uma espécie de ave, com destaque para o Atobá. O ponto alto do passeio é o mergulho. Maravilhoso mergulhar naquelas águas transparentes, no meio de diversos tipos de peixes enormes e coloridos, inclusive pequenos tubarões. É emocionante mesmo!!! Retornamos já noite e em “ala” de moto, com meu novo amigo, voltamos para Prado.

À noite o Mototour Fest estava “bombando”. Era gente de todo o Brasil, ambiente familiar e agradável, uma verdadeira confraria de moto clubes, certamente atingiu, segundo a coordenação, 10.000 pessoas. Também, com a mistura de praia, sol, não pagava para entrar no evento e a mística da Bahia, só podia ser sucesso total. Ano que vem tô lá de novo, rsrsrsr. Parabéns aos organizadores desse terceiro ano de sucesso.

13° dia: Chegava a hora de regressar. Logo na saída da cidade de Prado BA já encontrei três motociclistas que regressavam rumo à Vitória ES e Rio de Janeiro RJ e me juntei a eles, em seguida surgiram mais dois e depois mais um, seguimos juntos, passamos por Teixeira de Freitas BA, até a entrada para a BR 418 Nanuque MG, onde entrei e eles seguiram em frente.

Portanto, fiz Prado a Governador Valadares MG (atenção, neste trecho posto somente a 140 km), Nanuque MG, Teófilo Otoni MG, Governador Valadares MG e Ipatinga MG, 574 km, de muito sol, muita água de coco na estrada. Me hospedei no Hotel Presidente, R$ 80,00.

14° dia: Prossegui por Ipatinga MG, João Monlevade MG, Belo Horizonte MG, Betim MG, Itauna MG, Divinópolis MG, Formiga MG, e pernoite em Piumhi MG, 501 km, também de muita curva, e boa estrada. Me hospedei no Hotel Stalo, R$ 61,00, com ótimo restaurante ao lado.

15° dia: De Piunhi a Ribeirão Preto SP. Sai de Piumhi MG passando por Passos MG, São Sebastião do Paraíso MG, Batatais SP e enfim Ribeirão Preto SP. Mais chopp do Pinguim rsrsrs. Chegando em Ribeirão Preto SP fui direto para a Suzuki e deixei a bela moto para revisão de 6.000 km. Até aqui a moto foi 10, sem nenhum problema, graças a Deus. Cabe aqui relembrar que desde que perdi a placa da moto na ida, na estrada do Espírito Santo, não consegui colocar outra, é muita burocracia, fazer BO, pegar autorização do Delegado em Maringá PR, Delegado ligar para o outro delegado na outra cidade, teve até gente que falou que eu precisava levar moto para reemplacar no Paraná ??? Bom, fui tocando confiando na sorte e não fui parado.

16° e 17° dia: Permaneci em Ribeirão Preto SP

18° dia: Segui para a última etapa, Ribeirão Preto SP a Maringa PR. Passei por Marília SP, Assis SP, Londrina PR e minha Maringá PR, nesse dia foram rodados 556 km. E, para não dizer que não houve nada, fui parado uma única vez pela Polícia Militar de São Paulo, faltando apenas 500 m da divisa com o Paraná. Viram que eu estava sem a placa, pediram documentos, no que eu apresentei o Boletim de Ocorrência e fui liberado.

Prossegui até minha Maringá e cheguei, com a graça de DEUS.

Resumindo

Sai de Maringá no dia 28 de fevereiro de 2010, com destino à Bahia. Segui atravessando Paraná, São Paulo, interior de Minas Gerais, Rio de Janeiro, pegando a BR 101, saindo próximo de Guarapari ES e seguindo até Prado BA e Abrolhos. O retorno foi similar, também pelo interior de Minas Gerais, São Paulo e Paraná PR. A travessia pelo interior de Minas tem que ser pensada 2 vezes, pois embora a paisagem seja linda, tem muita curva, o que torna a viagem demorada, cansativa e perigosa. As estradas de maneira geral me surpreenderam, com raras exceções, estão ótimas. Existem vários pedágios, sendo que em São Paulo moto não paga.

As roupas impermeáveis (calça e jaqueta) foram uma ótima par enfrentar chuva (e não adianta dizer que não vai pegar chuva). Luvas e botas de couro encharcam demais.

Bolsas de couro são bonitas, dão um charme nas motos, mas também não são muito práticas, encharcam, pesam demais e dão uma mão-de-obra cada hora de amarrar e desamarrar nos pernoites, principalmente se for um dia em cada cidade. A opção mais prática, acredito, que seja o “baú” .

Procurei passar pelas grandes cidades mais movimentadas nos finais de semana, onde o trânsito é bem melhor. Os pernoites em pousadas foram todas realizadas em pequenas cidades ou vilas de pescadores, fica mais barato e bem mais fácil, depois de um dia inteiro rodando, encontrar uma boa cama. Uma exigência obrigatória é que houvesse garagem nas pousadas.

Considerando todos os gastos, inclusive gasolina, boas refeições, pousadas, chips de celular, passeios, cervejas rsrsrs, enfim tudo, pode-se calcular em torno de R$ 80,00 por dia.

Não houve problema com abastecimentos, principalmente porque procurei rodar cerca de 140 km no máximo. Andava cerca de 500 km por dia, às vezes um pouco mais ou um pouco menos, dependendo da cidade do pernoite. A velocidade normal foi por volta de 120 km/h, às vezes nas ótimas retas um pouco mais, e nas curvas um pouco menos.

A moto, um Suzuki Boulevard M800, 2008, correspondeu perfeitamente às expectativas, principalmente nas ultrapassagens, é rápida e responde de imediato à aceleração. Claro que o consumo depende da velocidade que se está usando e da gasolina (nem sempre se encontra aditivada), mas a média foi de 18 km/l.

A opção de ir em grupo ou sozinho é totalmente pessoal. Os 2 lados possuem os prós e contras. Fui sozinho pois não encontrei ninguém que fosse conhecido o suficiente para ir junto. Além do mais você faz sua rota, muda a hora que quiser, pára onde quiser, descansa o tempo que quiser, levanta a qualquer hora e vai embora enfim, liberdade total para decidir.

Rodar nas estradas é simplesmente demais, conhecer lugares aconchegantes não tem preço, só mesmo quem já viveu isto para poder expressar este sentimento mágico.

Os pontos máximos da viagem foram às belas paisagens, as belas praias, muitas fotos, o encontro de Moto em Prado BA, a visita ao Arquipélago de Abrolhos, as amizades que você faz em todo o trajeto e ver que as pessoas além de admirar muito as motos, possuem um enorme prazer em ajudar.

Foram 18 dias de pura descontração, prazer, alegria, higiene mental e... saudades, em que foram rodados 4.485 km.

A próxima? Bem, quem sabe Ushuaia ou Rota 66. Alguém se habilita?

Contato: Miessa73@yahoo.com.br

Orkut: rick mie

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